17.3.11

Miren Agur Meabe

Diagnóstico


Esta enfermedad es degenerativa.

Consiste en destruir los tejidos comunicativos:

en contraer la piel

(se pierde la sensibilidad a las caricias),

en reducir el foco visual

(se limita al espacio del libro que leemos).

Nos fatiga incluso hablar.

Y cada vez que pronunciamos un sonido,

nace provisto de largos pseudópodos grises

y se queda flotando en la salita,

como si ese fuera su destino:

una extraña ameba que ignora la hora de acostarse.

Nos afecta al oído, sordos en el búnker.

Papilas y lenguas ya están paralizadas.

La nariz es antena que percibe al instante

la chamusquina de una queja o el empalago de un suspiro.

Diagnóstico:

cáncer cíclico de silencio.

Periodo de incubación:

las rachas de impaciencia.

Previsión de recaídas ( salvo que la ciencia del perdón

descubra otros remedios):

tantas como fracasos del uno junto al otro.

Tratamiento profiláctico:

una cena en un bonito restaurante de vez en cuando

y cada mañana:

un pensamiento alegre al decir "buenos días".

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13.3.11

António Botto

Pedir amparo a alguém é uma loucura.
Pedir amor,
Também nada resolve – e para quê?
O amor corre – e em seus próprios movimentos
Isola-se, e de tudo parece que descrê;
E quando vem dizer-nos que é verdade,
Vê-se a mentira
Em que ele a rir afirma o que não vê.


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8.3.11

Sylvia Plath


Poemas são um mau começo: especialmente os mais complexos: eles me paralisam depressa demais por muito pouco. Melhor poemas curtos como exercício de descrição que não exijam desenvolvimento lógico ardiloso, verdadeiras armadilhas filosóficas. Pequenos poemas sobre o patim, a vaca ao luar, à Sow. Muito concretos, no sentido de que os mundos são personificados em minhas palavras, e não declarados em abstrações, ou em denotações espirituosas em três níveis claros. Descrições curtas nas quais as palavras tenham uma aura de poder místico: nomear o nome de uma característica: delgada, picante, lustrosa, chanfrada, lívida, luminosa, bojuda. Sempre nomeá-las em voz alta. Torná-las irrefutáveis.




Sylvia Plath, 17 de julho de 1957, começando um dia de trabalho. The Journals of Sylvia Plath.


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1.3.11

Mário de Andrade


PONTEANDO SOBRE O AMIGO RÚIM

(Março de 1927)


Enfim a gente não é mais amigo um do outro não.

Você anda facil, levianinho,
No labirinto das complicações.
Que subtileza! quanta graça dançarina!...
É certo que fica sempre
Bastante pó das asas de você
Nos galhos, nos espinhos,
Até nas flores dêsse mato...
Mesmo já pus reparo várias vezes
Nas asas de você estragadas pelas beiras...
Porém o essencial, o importante
É que apesar dêsse estrago inda você pode voar.

Eu não sou assim não.
Sou pesado, bastante estabanado,
Não tenho asa nem muita educação.
Careço de caminho largo, bem direito.
Si falta espaço, quebro tudo,
Me firo, me fatigo... Afinal caio.
No meio do mato eu paro, não posso mais caminhar.
Não posso mais.

Você... É possível que ainda me chame de amigo...
Mesmo perdendo um bocadinho de asa
Pousa no meu espinheiro e inda pode voar depois.
Mas eu, eu sofro é certo,
Porém já não sou mais amigo de você.

Você é amigo do mar, você é amigo do rio...