1.3.11

Mário de Andrade


PONTEANDO SOBRE O AMIGO RÚIM

(Março de 1927)


Enfim a gente não é mais amigo um do outro não.

Você anda facil, levianinho,
No labirinto das complicações.
Que subtileza! quanta graça dançarina!...
É certo que fica sempre
Bastante pó das asas de você
Nos galhos, nos espinhos,
Até nas flores dêsse mato...
Mesmo já pus reparo várias vezes
Nas asas de você estragadas pelas beiras...
Porém o essencial, o importante
É que apesar dêsse estrago inda você pode voar.

Eu não sou assim não.
Sou pesado, bastante estabanado,
Não tenho asa nem muita educação.
Careço de caminho largo, bem direito.
Si falta espaço, quebro tudo,
Me firo, me fatigo... Afinal caio.
No meio do mato eu paro, não posso mais caminhar.
Não posso mais.

Você... É possível que ainda me chame de amigo...
Mesmo perdendo um bocadinho de asa
Pousa no meu espinheiro e inda pode voar depois.
Mas eu, eu sofro é certo,
Porém já não sou mais amigo de você.

Você é amigo do mar, você é amigo do rio...