14.8.07

Rainer Maria Rilke




Cristo, no gesto da Crucificação, seus braços estendidos parecendo uma placa de sinalização na encruzilhada de toda a dor, morre sob o peso do seu destino que, como uma pedra (a Cruz pesada e petrificada), eleva-se sobre ele. E ela, que uma vez veio para ungir seus pés incansáveis, aproxima-se, agora que o sacrifício está completo, para envolver aquele corpo abandonado e inanimado com o carinho tardio e sem sentido do seu próprio corpo. Em um paroxismo de desespero, ela se joga aos pés dele. Com o braço esquerdo, apóia aquela cabeça maltratada, cuja expressão já não consegue suportar. E o rosto dele deixa-se levar por seu braço trêmulo, como um objeto flutuante, enquanto ela, curvada para a direita, como uma chama atormentada pelo vento, tenta enterrar e esconder o sofrimento inefável daquele corpo tão amado no seu próprio amor destruído. Ela o envolve com um movimento desconsolado e suplicante e, com um gesto de desamparo, solta os cabelos para mergulhar neles o coração atormentado de Cristo.


Rainer Maria Rilke, em monografia sobre a escultura Cristo e Madalena, de Rodin, 1902.