16.2.05

Luís Aranha



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Eu morria de dieta no hospital
Emprestavam-me livros franceses e ingleses
Um dia uma revista
Conheci então Cendrars
Apollinaire
Spire
Vildrac
Duhamel
Todos os literatos modernos
Mas ainda não compreendia o modernismo
Fazia versos parnasianos
Aos livros que me davam preferia viajar com a imaginação
Paris
Bailarinas de café-concerto rodopiando na ponta dos pés
Ou então a casa de um chinês esquecimento da vida
Antro de vícios elegantes
Morfina e cocaína em champanha
Ópio
Haxixe
Maxixe
Todas as danças modernas
Doente perdi um baile numa sociedade americana de S. Paulo
Minha cabeça girava como depois de muito dançar
E o mundo é uma bailarina de vermelho rodopiando na
ponta dos pés no café-concerto universal
Gosto de bailes de matinês
E os jornais trazem anúncios de chás dançantes
La Prensa diz
"A Argentina proibiu exportação de trigo"
Nova lente no observatório de Buenos Aires
Estudo astronomia numa lente polida por Spinoza
Judeu
Uma sinagoga nos Andes
Não sei se a Cordilheira cai a pique sobre o mar
Santiago
E os barcos de minha imaginação nos mares de todo mundo...


Luís Aranha, em fragmento do seu "Poema Giratório".