18.12.04

sobre traduções





Duas versões d'O Meu Pipi


1) a portuguesa, original

Crítica de fodas

A foda que dei ontem devia estar preservada no Museu de História Natural. Será considerada a gambozina das fodas, uma vez que já muitos a quiseram dar, mas nunca antes tinha sido vista. Falo da pinocada que dei em crica virgem de 72 anos. Uma virgem de 72 anos, Pipi?? Pergunta o efeminado leitor, enquanto rapa os pêlos das pernas. É facto, rabichos. Tratava-se de uma anciã que, por espartana educação religiosa (se bem que, evidentemente, longe de padres), acasos da vida e um problema grave de sudação que repelia os mais temerários, mantinha intacta a cabaça com que Deus -- por chiste, não duvido -- marca todas as mulheres. Aliás, minto. A cabaça não estava intacta. Estava reforçada. Décadas de falta de uso alteraram a génese da membrana virginal que, de simples selo, garante de novidade, passou a lacre de chumbo, intransponível Cérbero que em vez de guardar o Hades, guardava o hás-de: da maneira como aquilo estava, era o "não hás-de foder nunca". Quem encostasse o ouvido àquela rata avoenga, lograria ouvir os latidos do cabrão do bicho tricéfalo, tal como num búzio se sente o mar.O hímen da velha não estava difícil, meus amigos, estava calcinado. Um homem normal precisaria de estar ano e meio sem foder, para ter o pau mais feito de sempre, 20 centímetros de força bruta, necessária para furar o contraplacado de sangue e crosta e muco vaginal que unia as paredes musculadas da greta. Felizmente, para o Pipi, bastou não bater punhetas nesse dia para ter madeiro suficiente para a perfuração. A broca entrou às 19h45. Às 19h48 estava a perfuração concluída. Em vez do tradicional sangue, saiu uma mistela verde. Digo eu: "Vamos lá a ver se não tem já a pachacha estragada, minha senhora. Isto devia ter começado a ser consumido por volta de 1945." E ela: "Como diz?" E eu: "NÃO SEI SE O PITO AINDA ESTARÁ BOM!" E ela: "Como diz?" E eu: "O PITO, O PITO! É CAPAZ DE JÁ ESTAR PASSADO!" E ela: "Escarranche-me mas é isso, jovem." Escarranchei. A velha sorria infantilmente. Digo infantilmente por duas razões: primeiro, porque era um sorriso germinal, novo, de descoberta; segunda, porque a velha não tinha dentes, e por isso ria como os bebés. No final, confessou-me que não se lembrava de ter tido uma sensação tão forte na vida -- tirando a trombose. É para momentos como este que nós, que andamos metidos nisto das cricas e do chavascal, trabalhamos. Vou só actualizar o meu curriculum e já venho.



2) a brasileira, em tradução de Mario Prata 



Crítica de Fodas


A trepada que dei ontem devia ficar preservada no Museu de História Natural. Falo da pirocada que dei em xota virgem de 72 anos. "Uma virgem de 72 anos, Pipi?" Pergunta o efeminado leitor, enquanto raspa os pêlos das pernas. É verdade, bichinhas. Tratava-se de uma anciã que, por espartana educação religiosa (se bem que, evidentemente, longe de padres), acasos da vida e um problema grave de sudorese que repelia os mais temerários, mantinha intacto o cabaço com que Deus -- por gozação, não duvido -- marca todas as mulheres. Aliás, minto. O cabaço não estava intacto. Estava reforçado. Décadas de falta de uso alteraram a gênese da membrana virginal que, de simples selo, garantia de novidade, passou a lacre de chumbo, intransponível Cérbero que em vez de guardar o Hades, guardava o "há de": da maneira como aquilo estava, era o "não 'há de' foder nunca". Quem encostasse o ouvido naquela velha boceta, lograria ouvir os latidos do danado do bicho tricéfalo, tal como num búzio se sente o mar. O hímen da velha não estava difícil, meus amigos, estava calcinado. Um homem normal teria que estar há um ano e meio sem foder para ter o pau mais duro da sua vida, vinte centímetros de força bruta, necessária para furar o compensado de sangue e crosta e muco vaginal que unia as paredes musculosas da boceta. Felizmente, para o Pipi, bastou não bater punhetas nesse dia para ter um pau suficiente para a perfuração. A broca entrou às 19h45. Às 19h48 estava a perfuração concluída. Em vez do tradicional sangue, saiu um líquido verde. Eu disse: "Vamos ver se não tem a chavasca estragada, minha senhora. Isto deve ter começado a ser criado por volta de 1945." E ela: "Como diz?" E eu: "NÃO SEI SE A XOTA AINDA VAI ESTAR BOA!" E ela: "Como diz?" E eu: "A XOTA, A XOTA! É CAPAZ DE JÁ ESTAR PASSADA!" E ela: "Me fode, garoto." Fodi. A velha sorria infantilmente. Digo infantilmente por duas razões: primeiro, porque era um sorriso germinal, novo, de descoberta; segundo, porque a velha não tinha dentes, e por isso ria como os bebês. No final, me confessou que não se lembrava de ter tido uma sensação tão forte na vida -- tirando a trombose. É para momentos como este que nós, que andamos metidos nisto das xotas e da sacanagem, trabalhamos. Vou só atualizar o meu curriculum e já volto.
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Para quem não sabe, O Meu Pipi era um blog português que chegava a receber 4.500 acessos/dia. O Prosa Caótica foi um dos primeiros blogs, senão o primeiro, a mencionar O Meu Pipi no Brasil. Transformado em livro em 2003, é um dos maiores sucessos da literatura portuguesa. Seu autor continua anônimo. Na edição brasileira, apesar dos esforços do tradutor de fidelidade ao original, o texto perde bastante do seu saboroso humor lusitano. Ah, sim, o tradutor comeu a segunda frase do texto. Saudades do Pipi.