2.3.04

business as usual


Os industriais queriam artigos diários que pressionassem o governo. Hesse explicou-lhes, paciente, que semanalmente era melhor: "Os motivos são psicológicos e técnicos. Sai um numa semana. É comentado, discutido. A ausência, nos dias seguintes, saliva o apetite dos que nos apóiam, aumenta o debate e a platéia do próximo. O governo ganha tempo, porém fica inquieto, à espera de novos argumentos. Prefere não responder antes que tudo venha à luz, o que é, falando nisso, a única tática certa, do lado dele. Se soltarmos a bola de uma vez, acabaremos nos repetindo, cansando nosso público e diluindo o incentivo à divulgação de boca, e avançando demais terminaremos expondo algum flanco a um contra-ataque de Brasília, que, afinal, dispõe de um grupo culto de economistas. O negócio é mantê-los na ansiedade, na defensiva, tontos. (...) se o jornal ficasse todo dia no assunto (...) perderíamos acesso a nossos amigos nos ministérios (...) o que não nos interessa ou às classes produtoras, pois nosso objetivo é persuadir e não irritar. (...) A nossa estratégia, acreditem, é a correta."

Paulo Francis, em Cabeça de Papel.