9.2.03

Relato [de um ex-macaco] a uma Academia


Temo que talvez vocês não compreendam muito bem o que quero dizer com "saída". Uso a expressão no seu sentido mais pleno e popular. Deliberadamente não uso a palavra "liberdade". Não quero dizer o sentimento espaçoso de liberdade de todos os lados. Como macaco talvez eu soubesse disso, e conheci homens que anseiam por isso. Mas eu mesmo não desejei essa liberdade nem antes nem agora. A propósito, posso dizer que os homens são traídos com frequência pela palavra liberdade. E como a liberdade é considerada um dos sentimentos mais sublimes, assim a decepção correspondente também pode ser sublime. Nos teatros de variedades observei muitas vezes, antes de chegar a minha vez, um casal de acrobatas atuando nos trapézios lá em cima. Eles se balançavam, giravam para frente e para trás. Lançavam-se ao ar, flutuavam para os braços um do outro, um preso pelos cabelos nos dentes do outro. "E isso também é liberdade humana", pensei, "o autocontrole dos movimentos." Que imitação ridícula da Mãe Natureza! Se os macacos assistissem a tal espetáculo, as paredes do teatro não se suportariam de pé com o estrondo das suas gargalhadas.
Não, liberdade não era o que eu queria. Só uma saída. Para a direita ou para a esquerda, em qualquer direção. Eu não pedia outra coisa, mesmo que a saída provasse ser uma ilusão. O pedido era pequeno, o desapontamento não poderia ser maior. Sair! Só não ficar imóvel com os braços erguidos, esmagado contra uma parede de madeira.

-- Kafka